terça-feira, 14 de abril de 2009

Um pouquinho de Quintana...

Os poemas são pássaros

Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam vôo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto;
alimentam-se um instante em cada
par de mãos e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhado espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti…
(Mário Quintana )

Minha experiência com EJA: acertos e equívocos

Redescobrindo-se através da palavra.
Rosangela Ramos.

A palavra como forma de expressão e liberdade. A palavra como instrumento de libertação das amarras do preconceito. A palavra como expressão dos sentimentos mais profundos do “eu”. Ler e interpretar o mundo através da palavra. Ler e interpretar a si mesmo. Redescobrir-se através da palavra. A descoberta da cidadania e do valor social através da palavra. Palavra é vida, é liberdade!Foi pensando dessa forma que surgiu em 2007 o Projeto de Leitura e Produção Textual no Centro de Ensino Supletivo Professora Rosa Soares, com o objetivo de levar os alunos da EJA a ler, interpretar e se tornar capaz de produzir seus próprios textos a partir da (re) descoberta da palavra oral e escrita.

“(...) é dever indubitável da escola que todos que ingressem de suas salas sejam “pessoas que escrevem”, isto é, sejam pessoas que, quando necessário, possam valer da escrita com adequação, tranqüilidade e autonomia (KAUFMAN & RODRIGUES (1995, p.03))”.

Oficinas de Produção Textual No início, preocupava-me apenas com a participação dos alunos da EJA nas provas de certificação do ENCCEJA e nas provas do ENEM. Por isso, realizei diversas oficinas de Produção Textual com intuito de oferecer aos alunos a leitura e o contato com os mais variados gêneros textuais, tipos e funções de linguagem, atividades de coesão e coerência textuais, ortografia, sintaxe e semântica. No entanto, durante as
oficinas, percebi a necessidade de trabalhar a palavra também como instrumento de cidadania e participação social, visto que os alunos da EJA demonstraram grande interesse em dialogar sobre seus problemas e compartilhar seus sonhos e expectativas futuras e não apenas conseguir certificações e concluir suas provas.

Segundo ZILBERMAN (1995, p.107) in CABRERA, Leila Aparecida (2006, p.07):

“O maior estímulo para a leitura advém da própria dinâmica democrática, quando todos os cidadãos são encorajados a participar da vida da sua sociedade e influir
nos seus destinos. Para se munir dos instrumentos essenciais da participação - a informação, o conhecimento e as idéias – os indivíduos não só ampliam os seus contatos com o mundo da escrita, tornando-os mais intensos e mais freqüentes, como se motivam a fazer-lhes uma leitura mais crítica e acurada”.

A partir dessa perspectiva surgiram, então, as oficinas de poemas onde trabalhei com acrósticos, literatura de cordel, leitura de poemas de diversos autores nacionais observando a musicalidade, versificação, rimas e figuras de linguagem. A primeira oficina realizada foi a “Oficina de Acrósticos” onde os alunos produziram acrósticos a partir de seus nomes e mais adiante com o nome da escola.

Logo em seguida, trabalhamos com a “Literatura de Cordel”. Nesta oficina, apresentei aos alunos o “Cordel de Santa Teresa”, de Gonçalo Ferreira da Silva. Nele o cordelista descreve o bairro de Santa Teresa e faz reivindicações ao prefeito do Rio de Janeiro para que tome providências para a melhoria do bairro. Com a leitura desse texto, os alunos tomaram consciência de que a palavra tornou-se, através da poesia de cordel, um instrumento de reivindicação de melhorias sociais.

Nas oficinas posteriores, lemos e discutimos diversos poemas de autores variados dentre os quais posso destacar Vinícius de Moraes, Cecília Meireles, Olavo Bilac, Cassiano Ricardo, Castro Alves, Patativa do Assaré, Gonçalo Ferreira da Silva e outros.

Terminadas as oficinas, partimos para a segunda etapa do nosso projeto: produzir um livro de poemas com textos dos alunos e fazer uma tarde de autógrafos – “O Sarau de Poemas Machado de Assis” – onde os alunos exporiam seus trabalhos e declamariam seus poemas. No dia do evento, contamos com a participação de contadores de histórias, professores da Unidade Escolar das mais diversas disciplinas, que declamaram poemas de autores famosos, dos alunos-autores, músicos e convidados da comunidade escolar. Ao final do evento todos os alunos-autores receberam um certificado de participação e seus livros devidamente autografados.

O Projeto “Sarau de Poemas Machado de Assis” foi um sucesso e atingiu seu principal objetivo: mostrar ao aluno da EJA que, independente da idade ou nível escolar, todos nós somos capazes de ler, interpretar e produzir textos dos mais diversos gêneros textuais e que a palavra, seja ela oral ou escrita, mais do que instrumento de expressão, é instrumento de libertação. “A palavra tornou-se um aliado precioso, porque estar alfabetizado é um detalhe fundamental, para a inserção no mercado de trabalho, na sociedade e no mundo” (Souza, Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ/LEN, Um novo estilo de vida para ser mais feliz.).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CABRERA, Leila Aparecida. PROJETO DE PRODUÇÃO DE TEXTO E LEITURA NAALFABETIZAÇÃO ATRAVÉS DO USO DAS TECNOLOGIAS. Campo Grande MS, 2006.


SOUZA, Eliane Santos de. Pesquisas e Práticas Educativas. UM NOVO ESTILO DE VIDA PARA SER MAIS FELIZ. Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ/LEN.


KAUFMAN, Ana Maria & RODRIGUES, Maria Helena. Escola, leitura e produção de textos. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.