segunda-feira, 8 de junho de 2009

Velas Içadas...


(Ivan Lins e Vitor Martins)

Seu coração
É um barco de velas içadas
Longe dos mares do tempo
Das loucas marés
Seu coraçãoÉ um barco de velas içadas
Sem nevoeiros, tormentas
Sequer um revés
Seu coração
É um barco jamais navegado
Nunca mostrou-se por dentro
Mostrando os porões
Seu coração é um barco
Que vive ancorado
Nunca arriscou-se ao vento
Às grandes paixões
Nunca soltou as amarras
Nunca ficou à deriva
Nunca sofreu um naufrágio
Nunca cruzou com piratas
E aventureiros
Nunca cumpriu o destino
Das embarcações

Mario Quintana - Grande Mestre


Mário Quintana – Por ele mesmo

Nasci em Alegrete, em 30 de julho de 1906. Creio que foi a principal coisa que me aconteceu. E agora pedem-me que fale sobre mim mesmo. Bem! Eu sempre achei que toda confissão não transfigurada pela arte é indecente. Minha vida está nos meus poemas, meus poemas são eu mesmo, nunca escrevi uma vírgula que não fosse uma confissão. Ah! Mas o que querem são detalhes, cruezas, fofocas… Aí vai! Estou com 78 anos, mas sem idade. Idades só há duas: ou se está vivo ou morto. Neste último caso é idade demais, pois foi-nos prometida a Eternidade. Nasci no rigor do inverno, temperatura: 1grau; e ainda por cima prematuramente, o que me deixava meio complexado, pois achava que não estava pronto. Até que um dia descobri que alguém tão completo como Winston Churchill nascera prematuro - o mesmo tendo acontecido a sir Isaac Newton! Excusez du peu… Prefiro citar a opinião dos outros sobre mim. Dizem que sou modesto. Pelo contrário, sou tão orgulhoso que acho que nunca escrevi algo à minha altura. Porque poesia é insatisfação, um anseio de auto-superação. Um poeta satisfeito não satisfaz. Dizem que sou tímido. Nada disso! sou é caladão, introspectivo. Não sei por que sujeitam os introvertidos a tratamentos. Só por não poderem ser chatos como os outros?Exatamente por execrar a chatice, a longuidão, é que eu adoro a síntese. Outro elemento da poesia é a busca da forma (não da fôrma), a dosagem das palavras. Talvez concorra para esse meu cuidado o fato de ter sido prático de farmácia durante cinco anos. Note-se que é o mesmo caso de Carlos Drummond de Andrade, de Alberto de Oliveira, de Érico Veríssimo - que bem sabem (ou souberam) o que é a luta amorosa com as palavras.

Mario Quintana






quarta-feira, 27 de maio de 2009

O papel das tecnologias na Escola


O papel das tecnologias na escola

Hoje, ser cidadão, no sentido pleno da palavra, pressupõe ser capaz de utilizar recursos das novas tecnologias. Acessar informações, utilizar serviços, comunicar-se rapidamente são algumas exigências que requerem das pessoas o domínio de diferentes linguagens e tecnologias.
No Brasil, a luta pela inclusão social da grande maioria da população brasileira está necessariamente relacionada às questões de uma educação de qualidade para todos. O sistema público de ensino atende mais de 50 milhões de crianças e jovens, e é principalmente a escola a instituição responsável pelo desenvolvimento intelectual e social do cidadão. Cabe a ela, portanto, criar condições para o acesso dos alunos não só aos conhecimentos básicos da leitura e da escrita, das ciências e das artes, mas também às novas tecnologias.
Essa é uma necessidade que implica novos equipamentos e novas práticas educativas. Utilizar o computador, acessar a Internet são alguns requisitos básicos desse momento, de um processo de ensino aprendizagem de qualidade: um grande desafio para os gestores dos sistemas públicos de ensino e para os educadores.
A Internet é uma rede mundial de comunicação na qual é possível encontrar conteúdos de diferentes áreas do conhecimento, em diversos idiomas. Esse fato, no campo da ciência, por exemplo, contribui enormemente para o desenvolvimento da pesquisa, pois conecta estudiosos do mundo todo, eliminando barreiras de espaço e tempo, facilitando o acesso e a troca de informações, para citar apenas uma das possibilidades.
Na Educação, o uso da Internet potencializa o aprendizado cooperativo: o aluno aprende com seus pares e o educador orienta, media e anima o processo de construção do conhecimento. Com isso, cria-se oportunidade para o trabalho em rede e o desenvolvimento da capacidade de cooperar, aprender, acessar e produzir informação.
Na verdade, a Internet é uma importante ferramenta na dinâmica de trabalho do educador. A riqueza de materiais armazenados, as informações atualizadas, as possibilidades de interação e de produção permitem o desenvolvimento de diversas atividades com os alunos. É possível, por exemplo, construir roteiros cognitivos partindo da seleção, do recorte e da edição de informações coletadas na rede. O aluno pode não só pesquisar, mas também discutir um trabalho coletivamente ou ser orientado a distância pelo professor e ainda publicar resultados de projetos ou produções.
Essas vantagens do uso das TICs , no entanto, não estão ainda disponíveis para a maior parte dos brasileiros. No Brasil, menos de 10% da população têm computadores com acesso à Internet em casa. Não existem pontos de atendimento comunitários suficientes para que todos possam desfrutar dos recursos que a Internet oferece. Nesse contexto, a maioria dos jovens brasileiros terá acesso ao mundo digital se suas escolas estiverem informatizadas, conectadas à Internet e se os educadores souberem utilizá-la com propriedade.
Os governos municipais, estaduais e federais têm investido na informatização das escolas da rede pública. Embora seja um esforço significativo, apenas a informatização das escolas não basta, uma vez que é preciso uma política de formação dos educadores para que essas novas tecnologias possam ser aproveitadas no processo de ensino e aprendizagem.
O uso de novas tecnologias na escola altera a dinâmica de trabalho em diferentes aspectos, desde a presença dos recursos necessários até a possibilidade de inversão de papéis entre educador e aluno. Para essas mudanças, boa vontade e disposição do educador, apesar de indispensáveis, não bastam. Há que se pensar em alternativas que possam apoiar e formar os professores, incluindo-os digitalmente e oferecendo condições para que eles possam se apropriar dessas linguagens, certamente um grande desafio.




Referência:
Fonte: Márcia Padilha Lotito - CENPEC - Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária
http://www.abed.org.br/congresso2005/por/pdf/104tcc1.pdf

terça-feira, 14 de abril de 2009

Um pouquinho de Quintana...

Os poemas são pássaros

Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam vôo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto;
alimentam-se um instante em cada
par de mãos e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhado espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti…
(Mário Quintana )

Minha experiência com EJA: acertos e equívocos

Redescobrindo-se através da palavra.
Rosangela Ramos.

A palavra como forma de expressão e liberdade. A palavra como instrumento de libertação das amarras do preconceito. A palavra como expressão dos sentimentos mais profundos do “eu”. Ler e interpretar o mundo através da palavra. Ler e interpretar a si mesmo. Redescobrir-se através da palavra. A descoberta da cidadania e do valor social através da palavra. Palavra é vida, é liberdade!Foi pensando dessa forma que surgiu em 2007 o Projeto de Leitura e Produção Textual no Centro de Ensino Supletivo Professora Rosa Soares, com o objetivo de levar os alunos da EJA a ler, interpretar e se tornar capaz de produzir seus próprios textos a partir da (re) descoberta da palavra oral e escrita.

“(...) é dever indubitável da escola que todos que ingressem de suas salas sejam “pessoas que escrevem”, isto é, sejam pessoas que, quando necessário, possam valer da escrita com adequação, tranqüilidade e autonomia (KAUFMAN & RODRIGUES (1995, p.03))”.

Oficinas de Produção Textual No início, preocupava-me apenas com a participação dos alunos da EJA nas provas de certificação do ENCCEJA e nas provas do ENEM. Por isso, realizei diversas oficinas de Produção Textual com intuito de oferecer aos alunos a leitura e o contato com os mais variados gêneros textuais, tipos e funções de linguagem, atividades de coesão e coerência textuais, ortografia, sintaxe e semântica. No entanto, durante as
oficinas, percebi a necessidade de trabalhar a palavra também como instrumento de cidadania e participação social, visto que os alunos da EJA demonstraram grande interesse em dialogar sobre seus problemas e compartilhar seus sonhos e expectativas futuras e não apenas conseguir certificações e concluir suas provas.

Segundo ZILBERMAN (1995, p.107) in CABRERA, Leila Aparecida (2006, p.07):

“O maior estímulo para a leitura advém da própria dinâmica democrática, quando todos os cidadãos são encorajados a participar da vida da sua sociedade e influir
nos seus destinos. Para se munir dos instrumentos essenciais da participação - a informação, o conhecimento e as idéias – os indivíduos não só ampliam os seus contatos com o mundo da escrita, tornando-os mais intensos e mais freqüentes, como se motivam a fazer-lhes uma leitura mais crítica e acurada”.

A partir dessa perspectiva surgiram, então, as oficinas de poemas onde trabalhei com acrósticos, literatura de cordel, leitura de poemas de diversos autores nacionais observando a musicalidade, versificação, rimas e figuras de linguagem. A primeira oficina realizada foi a “Oficina de Acrósticos” onde os alunos produziram acrósticos a partir de seus nomes e mais adiante com o nome da escola.

Logo em seguida, trabalhamos com a “Literatura de Cordel”. Nesta oficina, apresentei aos alunos o “Cordel de Santa Teresa”, de Gonçalo Ferreira da Silva. Nele o cordelista descreve o bairro de Santa Teresa e faz reivindicações ao prefeito do Rio de Janeiro para que tome providências para a melhoria do bairro. Com a leitura desse texto, os alunos tomaram consciência de que a palavra tornou-se, através da poesia de cordel, um instrumento de reivindicação de melhorias sociais.

Nas oficinas posteriores, lemos e discutimos diversos poemas de autores variados dentre os quais posso destacar Vinícius de Moraes, Cecília Meireles, Olavo Bilac, Cassiano Ricardo, Castro Alves, Patativa do Assaré, Gonçalo Ferreira da Silva e outros.

Terminadas as oficinas, partimos para a segunda etapa do nosso projeto: produzir um livro de poemas com textos dos alunos e fazer uma tarde de autógrafos – “O Sarau de Poemas Machado de Assis” – onde os alunos exporiam seus trabalhos e declamariam seus poemas. No dia do evento, contamos com a participação de contadores de histórias, professores da Unidade Escolar das mais diversas disciplinas, que declamaram poemas de autores famosos, dos alunos-autores, músicos e convidados da comunidade escolar. Ao final do evento todos os alunos-autores receberam um certificado de participação e seus livros devidamente autografados.

O Projeto “Sarau de Poemas Machado de Assis” foi um sucesso e atingiu seu principal objetivo: mostrar ao aluno da EJA que, independente da idade ou nível escolar, todos nós somos capazes de ler, interpretar e produzir textos dos mais diversos gêneros textuais e que a palavra, seja ela oral ou escrita, mais do que instrumento de expressão, é instrumento de libertação. “A palavra tornou-se um aliado precioso, porque estar alfabetizado é um detalhe fundamental, para a inserção no mercado de trabalho, na sociedade e no mundo” (Souza, Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ/LEN, Um novo estilo de vida para ser mais feliz.).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CABRERA, Leila Aparecida. PROJETO DE PRODUÇÃO DE TEXTO E LEITURA NAALFABETIZAÇÃO ATRAVÉS DO USO DAS TECNOLOGIAS. Campo Grande MS, 2006.


SOUZA, Eliane Santos de. Pesquisas e Práticas Educativas. UM NOVO ESTILO DE VIDA PARA SER MAIS FELIZ. Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ/LEN.


KAUFMAN, Ana Maria & RODRIGUES, Maria Helena. Escola, leitura e produção de textos. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.